20.08.16
DELAÇÃO DO EX-PRESIDENTE DA OAS CITA MINISTRO DIAS TOFFOLI
Em proposta de colaboração com a Justiça, Léo Pinheiro fala de suas
relações com o magistrado e de uma obra em sua “mansão de revista”
Era um encontro de trabalho como
muitos que acontecem em Brasília. O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal
Federal, e o empreiteiro José Aldemário Pinheiro Filho, conhecido como Léo
Pinheiro, então presidente da construtora OAS, já se conheciam, mas não eram
amigos nem tinham intimidade. No meio da conversa, o ministro falou sobre um
tema que lhe causava dor de cabeça. Sua casa, localizada num bairro nobre de
Brasília, apresentava infiltrações e problemas na estrutura de alvenaria. De
temperamento afável e voluntarioso, o empreiteiro não hesitou. Dias depois,
mandou uma equipe de engenheiros da OAS até a residência de Toffoli para fazer
uma vistoria. Os técnicos constataram as avarias, relataram a Léo Pinheiro que
havia falhas na impermeabilização da cobertura e sugeriram a solução. É um
serviço complicado e, em geral, de custo salgado. O empreiteiro indicou uma
empresa especializada para executar o trabalho. Terminada a obra, os
engenheiros da OAS fizeram uma nova vistoria para se certificarem de que tudo
estava de acordo. Estava. O ministro não teria mais problemas com as
infiltrações — mas só com as infiltrações.
A história descrita está relatada
em um dos capítulos da proposta de delação do empreiteiro Léo Pinheiro,
apresentada recentemente à Procuradoria-Geral da República e à qual VEJA teve
acesso. Condenado a dezesseis anos e quatro meses de prisão por corrupção,
lavagem de dinheiro e organização criminosa no escândalo do petrolão, Léo
Pinheiro decidiu confessar seus crimes para não passar o resto dos seus dias na
cadeia. Para ganhar uma redução de pena, o executivo está disposto a sacrificar
a fidelidade de longa data a alguns figurões da República com os quais conviveu
de perto na última década. As histórias que se dispõe a contar, segundo os
investigadores, só são comparáveis às do empreiteiro Marcelo Odebrecht em poder
destrutivo. No anexo a que VEJA teve acesso, pela primeira vez uma delação no
âmbito da Lava-Jato chega a um ministro do Supremo Tribunal Federal.
No documento, VEJA constatou que
Léo Pinheiro, como é próprio nas propostas de delação, não fornece detalhes
sobre o encontro entre ele e Dias Toffoli. Onde? Quando? Como? Por quê? Essas
são perguntas a que o candidato a delator responde apenas numa segunda etapa,
caso a colaboração seja aceita. Nessa primeira fase, ele apresenta apenas um
cardápio de eventos que podem ajudar os investigadores a solucionar crimes,
rastrear dinheiro, localizar contas secretas ou identificar personagens novos.
É nesse contexto que se insere o capítulo que trata da obra na casa do ministro
do STF.
Tal como está, a narrativa de Léo
Pinheiro deixa uma dúvida central: existe algum problema em um ministro do STF
pedir um favor despretensioso a um empreiteiro da OAS? Há um impedimento moral,
pois esse tipo de pedido abre brecha para situações altamente indesejadas, mas
qual é o crime? Léo Pinheiro conta que a empresa de impermeabilização que
indicou para o serviço é de Brasília e diz mais: que a correção da tal
impermeabilização foi integralmente custeada pelo ministro Toffoli. Então,
onde está o crime? A questão é que ninguém se propõe a fazer uma delação para
contar frivolidades. Portanto, se Léo Pinheiro, depois de meses e meses de
negociação, propôs um anexo em que menciona uma obra na casa do ministro
Toffoli, isso é um sinal de que algo subterrâneo está para vir à luz no momento
em que a delação for homologada e os detalhes começarem a aparecer.
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