O6.03.16
OS CABUETAS DO COLARINHO BRANCO ESTÃO CUSPINDO NO COCHO QUE COMERAM
O ex-presidente do PP Pedro Corrêa, preso na Lava Jato, está fechando
uma delação bombástica – e o foco principal são episódios envolvendo o
ex-presidente Lula
Em seu pedido de
busca e apreensão para a 24ª fase da Operação Lava
Jato, os
procuradores da força-tarefa expuseram a anatomia do petrolão: “A estrutura
criminosa perdurou por, pelo menos, uma década. Nesse arranjo, os partidos e as
pessoas que estavam no governo federal, dentre elas Lula, ocuparam posição central em relação a entidades e
indivíduos que diretamente se beneficiaram do esquema”. Os investigadores ainda
reforçam que a corrupção só se alastrou devido a “vinculação de legendas
políticas que compunham a base aliada do governo federal”. Um exemplo disso,
destacado pelo próprio Ministério Público Federal, é o ex-deputado Pedro Corrêa, ex-presidente do Partido Progressista (PP) e preso na Lava Jato há quase um ano. Ele era
o responsável por garantir a sustentação de seu partido ao governo. Em troca,
recebia as propinas geradas a partir dos contratos fechados na diretoria de
abastecimento da Petrobras, comandada pelo delator Paulo Roberto
Costa. Aos 68 anos de
idade, Pedro Corrêa, que teve seis mandatos no Congresso desde a década de 1970
e foi condenado no mensalão, sabe de muita coisa. Testemunhou episódios
marcantes da história da República, do general João Figueiredo a Dilma
Rousseff. E com base em suas próprias experiências, relatadas em primeira
pessoa, ele avança em sua negociação de delação premiada, que está prestes a
ser assinada. De acordo com o ex-parlamentar, Lula sabia da existência do
petrolão e sabia da função exercida no esquema pelo ex-diretor da Petrobras
Paulo Roberto Costa.
Dos 73 capítulos e dos mais de 130 agentes políticos citados na proposta
de delação premiada de Pedro Corrêa, o personagem principal é o ex-presidente,
segundo investigadores ouvidos porÉPOCA. A
princípio, Pedro Corrêa ofereceu aos investigadores contar cinco episódios
comprometedores envolvendo Lula – que, no final das contas, tornaram-se um
único tópico. Foi graças a esse tópico que os procuradores da Lava Jato
decidiram aceitar a colaboração de Corrêa. Nele, há diversos relatos de
encontros realizados entre Corrêa e Lula. Num deles, o PP cobra mais espaço no
esquema de propina da Petrobras. Lula, segundo Corrêa, teria dito que
“Paulinho”, apelido de Paulo Roberto, indicado pelo ex-presidente para a
diretoria de abastecimento da estatal, feudo dividido entre PP e PT, estava
atendendo bem o partido da base aliada.
O publicitário Marcos
Valério, preso no mensalão, e o comprovante de pagamento a ele (abaixo). Seu advogado diz que Valério quer fazer delação premiada (Foto: Paulo
Filgueiras/EM/D.A Press)
Em outra passagem, Corrêa relata o que seria uma interferência direta de
Lula na Petrobras. Segundo o ex-deputado, entre 2010 e 2011, ele e seu colega
de partido João Pizzolatti foram ao escritório do advogado Luiz Eduardo
Greenhalgh, petista histórico e próximo a Lula. Quando chegaram lá, numa tarde
durante a semana, encontraram Marcos Valério e um empresário, do qual o delator
não se recorda o nome. Greenhalgh, Valério e o empresário queriam que Pedro
Corrêa e Pizzolatti os ajudassem a fechar uma operação de compra e venda de
petróleo com a área da Petrobras comandada por Paulo Roberto Costa. De acordo
com Corrêa, o negócio geraria um lucro alto – e, portanto, o PP resolveu
abocanhar uma fatia do dinheiro. Após a conversa, Corrêa e Pizzolatti foram
falar com Paulo Roberto Costa, que recusou fechar contrato, porque o empresário
não tinha uma boa fama dentro da Petrobras. Alguns meses depois, a operação foi
feita. De acordo com o ex-presidente do PP, Lula interferiu para que a
transação saísse. A partir da delação, o Ministério Público investigará para
onde foram os pixulecos do negócio.
O embrião do esquema do petrolão, segundo Corrêa, era o mensalão. No
anexo 2, Pedro Corrêa conta que, em meados de 2004, a Dinamo Distribuidora de
Petróleo depositou R$ 1,7 milhão na conta bancária da 2S Participações, do
operador Marcos Valério. Quando o repasse veio à tona, a explicação dada pela
Dinamo era que a empresa tinha comprado 25 títulos da Eletrobras para quitar
dívidas tributárias com o governo federal, operação intermediada por Valério.
No entanto, Corrêa afirma em sua proposta de delação que o valor de R$ 1,7
milhão era a devolução a Marcos Valério de um adiantamento de propina paga no
mensalão. Em troca, a Dinamo faturava com um contrato com a Petrobras para
distribuir 45 milhões de litros de álcool anidro que estariam infectados e
seriam redestilados para voltar ao mercado. “O petrolão e o mensalão são a
mesma coisa”, afirma o ex-presidente do PP em sua proposta de delação. “Desde
2004, o petrolão financiava o mensalão." A pessoa responsável para pedir à
Dinamo que fizesse o depósito na conta da empresa de Marcos Valério foi o
ex-assessor do PP João Cláudio Genu – ao lado de José Janene, morto em 2010.
Essa não é a primeira vez que a 2S, de Marcos Valério, famoso operador
do mensalão, aparece ligada ao Petrolão. No ano passado, foi encontrado no
escritório de Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, um contrato
de uma operação de empréstimo no valor de R$ 6 milhões, firmado entre a 2S
Participações e a Expresso Nova Santo André, de Ronan Maria Pinto – empresário
que ficou famoso no escândalo de corrupção desvendado à época da morte do
prefeito Celso Daniel, de Santo André. De acordo com depoimento de Valério ao
Ministério Público, em 2012, Ronan Maria Pinto ameaçou relacionar Lula e os
ex-ministros Gilberto Carvalho e José Dirceu com a morte do ex-prefeito de
Santo André – e recebeu R$ 6 milhões para ficar calado. Investigadores da Lava
Jato apuram se esse dinheiro teve origem num contrato de empréstimo tomado pelo
pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente e preso na Lava Jato, com
o Banco Schahin. Bumlai assume apenas que tomou o financiamento da instituição
financeira a mando do PT. A história já é bem conhecida – e é mais um indício
de que o petrolão e o mensalão podem estar umbilicalmente ligados.
De acordo com investigadores que tiveram acesso à proposta de delação de
Pedro Corrêa, os relatos são bastante detalhados – e impressionam pela
capacidade de memória do ex-parlamentar. Diferentemente de outras colaborações,
o ex-presidente do PP não apresenta provas robustas, extratos bancários, mas
faz uma verdadeira crônica da política brasileira, apontando irregularidades e
falcatruas em diversos períodos da história e em distintos partidos. Há desde
líderes de partidos no Congresso a ex-presidentes. Pelo volume de informações,
o grupo de trabalho dos procuradores da Lava Jato, em Brasília, gastou quase
seis meses para chegar a uma resolução de acordo final. Nos próximos dias, a
delação deverá ser, enfim, assinada. Ficou combinado, a princípio, que Corrêa
pagaria uma multa de quase R$ 5 milhões – e blindaria seus filhos, entre eles a
deputada Aline Corrêa, de qualquer acusação. Nesse acordo, ainda foi negociada
a redução de sua pena nas duas condenações – a do Petrolão e a do mensalão. Em
2012, Pedro Corrêa foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal no mensalão a
sete anos e dois meses de prisão, além de multa de R$ 1,1 milhão, por lavagem
de dinheiro e corrupção. No ano passado, o ex-deputado foi sentenciado na Lava
Jato a cumprir 20 anos e sete meses atrás das grades, novamente por corrupção e
lavagem de dinheiro. Conhecedor da história do mensalão, Pedro Corrêa não quis
acabar tendo o mesmo desfecho que Marcos Valério. Resolveu contar tudo o que
sabe. E o que sabe pode ser uma nova dinamite a explodir a República – e,
em particular, o ex-presidente Lula.
Procurado, o ex-presidente Lula, por meio de sua assessoria de imprensa,
afirmou que “não comenta supostas delações e repudia o jornalismo feito por
vazamentos ilegais”. A defesa de Pedro Corrêa não quis comentar. O advogado
Marcelo Leonardo, que representa Marcos Valério na Justiça, disse que não vai
comentar, porque não teve acesso ao conteúdo da delação. O criminalista ainda
diz que seu cliente está disposto a negociar um acordo de delação com os
investigadores da Lava Jato
os Cabueta n os bandido de terno e gravata
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