27.05.16
Pedro Corrêa faz relato contundente de envolvimento
de Lula no petrolão
Pedro Corrêa: ele embolsa propina desde a década de 1970
MAIS UM CABUETA NA LAVA JATOS
Revelações
do ex-deputado ao MP compõem documento de 132 páginas. Depoimento aguarda
homologação pelo Supremo Tribunal Federal
- Atualizado em 26/05/2016
Entre
todos os corruptos presos na Operação Lava-Jato, o ex-deputado Pedro Corrêa é
de longe o que mais aproveitou o tempo ocioso para fazer amigos atrás das
grades. Político à moda antiga, expoente de uma família rica e tradicional do
Nordeste, Corrêa é conhecido pelo jeito bonachão. Conseguiu o impressionante
feito de arrancar gargalhadas do sempre sisudo juiz Sergio Moro quando, em uma
audiência, se disse um especialista na arte de comprar votos. Falou de maneira
tão espontânea que ninguém resistiu. Confessar crimes é algo que o ex-deputado
vem fazendo desde que começou a negociar um acordo de delação premiada com a
Justiça, há quase um ano. Corrêa foi o primeiro político a se apresentar ao
Ministério Público para contar o que sabe em troca de redução de pena. Durante
esse tempo, ele prestou centenas de depoimentos. Deu detalhes da primeira vez
que embolsou propina por contratos no extinto Inamps, na década de 70, até ser
preso e condenado a vinte anos e sete meses de cadeia por envolvimento no
petrolão, em 2015. Corrêa admitiu ter recebido dinheiro desviado de quase vinte
órgãos do governo. De bancos a ministérios, de estatais a agências reguladoras
- um inventário de quase quarenta anos de corrupção.
VEJA teve
acesso aos 72 anexos de sua delação, que resultam num calhamaço de 132 páginas.
Ali está resumido o relato do médico pernambucano que usou a política para
construir fama e fortuna. Com sete mandatos de deputado federal, Corrêa detalha
esquemas de corrupção que remontam aos governos militares, à breve gestão de
Fernando Collor, passando por Fernando Henrique Cardoso, até chegar ao nirvana
- a era petista. Ele aponta como beneficiários de propina senadores, deputados,
governadores, ex-governadores, ministros e ex-ministros dos mais variados
partidos e até integrantes do Tribunal de Contas da União.
Além de
novos personagens, Corrêa revela os métodos. Conta como era discutida a
partilha de cargos no governo do ex-presidente Lula e, com a mesma
simplicidade com que confessa ter comprado votos, narra episódios, conversas e
combinações sobre pagamentos de propina dentro do Palácio do Planalto. O
ex-presidente Lula, segundo ele, gerenciou pessoalmente o esquema de corrupção
da Petrobras - da indicação dos diretores corruptos da estatal à divisão do
dinheiro desviado entre os políticos e os partidos. Corrêa descreve situações
em que Lula tratou com os caciques do PP sobre a farra nos contratos da
Diretoria de Abastecimento da Petrobras, comandada por Paulo Roberto Costa, o
Paulinho.
Uma das
passagens mais emblemáticas, segundo o delator, se deu quando parlamentares do
PP se rebelaram contra o avanço do PMDB nos contratos da diretoria de Paulinho.
Um grupo foi ao Palácio do Planalto reclamar com Lula da "invasão".
Lula, de acordo com Corrêa, passou uma descompostura nos deputados dizendo que
eles "estavam com as burras cheias de dinheiro" e que a diretoria era
"muito grande" e tinha de "atender os outros aliados, pois o
orçamento" era "muito grande" e a diretoria era "capaz de
atender todo mundo". Os caciques pepistas se conformaram quando Lula
garantiu que "a maior parte das comissões seria do PP, dono da indicação
do Paulinho". Se Corrêa estiver dizendo a verdade, é o testemunho mais
contundente até aqui sobre a participação direta de Lula no esquema da
Petrobras.
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