22.06.16
A VELHA RAPOSA PEDRO CORREIA NA DELAÇÃO PREMIADA
Pedro Correia
As histórias que comprometem Dilma Rousseff na
delação de Pedro Corrêa
Dilma Rousseff
Ex-deputado
narra um encontro de Dilma com Paulo Roberto Costa e a cúpula do PP, os pedidos
de dinheiro e apoio político da petista na campanha de 2010 e esquemas de
propina no período em que era a 'mãe do PAC'
A
presidente da República afastada, Dilma Rousseff durante entrevista coletiva em
Brasília (DF) - 14/06/2016(Ueslei
Marcelino/Reuters)
Afastada
do cargo desde que o Senado determinou a abertura do processo de impeachment, a
presidente Dilma Rousseff é uma das grandes estrelas da delação premiada do
ex-deputado Pedro Corrêa. Ex-presidente do Partido Progressista, Corrêa narra
uma profusão de episódios de corrupção envolvendo a petista que, analisados em
conjunto e se confirmadas, implodem de vez a imagem da presidente imaculada e
incorruptível.
As
narrativas de Corrêa que envolvem Dilma Rousseff nas falcatruas dos caciques do
PP começam no anexo 9 da delação. A presidente é personagem de um jantar que
marca a origem das articulações do PP para entrar no petrolão. Segundo Corrêa,
em 2003, os caciques progressistas, liderados pelo ex-deputado José Janene, já
morto, organizaram o evento numa mansão que o ex-tesoureiro do PP João Claudio
Genu, atualmente preso pela Lava-Jato em Curitiba, mantinha em um bairro nobre
de Brasília. A convidada especial da noite era ninguém menos que a ministra de
Minas e Energia, Dilma Rousseff. O governo Lula, então nos seus primeiros
meses, já discutia uma ampla reforma no setor elétrico.
Como
presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara, José Janene enxergava na
reforma uma oportunidade de extorquir empresários do setor. O jantar para Dilma
serviria para que o PP conseguisse a relatoria da proposta. Mas teria um papel
histórico importante na organização do petrolão. Foi naquela noite de
confraternização que Dilma Rousseff ouviria o primeiro apelo dos corruptos do
PP pela nomeação de um certo Paulo Roberto Costa para a Diretoria de
Abastecimento da Petrobras. Paulinho, que viria a se tornar um dos principais
operadores da corrupção na Petrobras, conquistou naquela noite, segundo Corrêa,
o apoio da petista. "Dilma ficou comprometida em ajudar na nomeação de
Paulo Roberto", diz Corrêa.
DILMA PEDIU DINHEIRO AO PP
O anexo 10
da delação de Pedro Corrêa também é dedicado à presidente Dilma Rousseff. A
exemplo de 2003, novamente, os corruptos do partido confraternizam com a
petista em um jantar. O ano é 2010. O grande homenageado da noite é ninguém
menos do que o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa.
Entre comes e bebes com Paulinho e os corruptos do PP, Dilma Rousseff, então
candidata do PT à Presidência da República, pede apoio político do partido e
até apoio financeiro.
O jantar
acontece no apartamento do ex-deputado João Pizzolatti, outra figurinha
carimbada nas investigações da Operação Lava-Jato. "Dilma se comprometeu,
caso fosse eleita, a manter Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento,
bem como a manter o Ministério das Cidades com o PP, o que efetivamente fez.
Dilma aproveitou a oportunidade para pedir apoio, financeiro inclusive, a sua
campanha", diz Corrêa.
Trecho da
delação de Pedro Corrêa sobre a presidente afastada Dilma Rousseff
A MÃE DO PAC E AS PROPINAS DO PAC
Entre o
segundo governo Lula e o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, o PP
dividiu com o PT um lucrativo esquema de cobrança de propinas em contratos do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Dilma, a chefe da Casa Civil e
"mãe do PAC", tinha como braço-direito no gerenciamento do programa a
ex-ministra petista Miriam Belchior. Segundo Pedro Corrêa, no período em que
Miriam ajudava Dilma a comandar o PAC, a Secretaria Nacional de Habitação do
Ministério das Cidades foi entregue a uma amiga de Miriam, Inês Magalhães.
O esquema
de corrupção operava com Inês liberando contratos para prefeituras e outro
petista, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Hereda, fiscalizando
os recursos que eram liberados pelo banco para tocar as obras. "Era como
se fosse a raposa cuidando do galinheiro", diz Pedro Corrêa. "O PP,
durante todo o tempo que comandou o Ministério das Cidades, quis substituir
Inês Magalhães, mas nunca conseguiu, por se tratar de pessoa ligada a Miriam
Belchior. O PT fez muito caixa através desse esquema", complementa Corrêa.
Enquanto
os petistas de confiança de Dilma Rousseff faturavam propinas nas verbas de
habitação do Ministério das Cidades, o PP roubava em contratos das secretarias
nacional de Saneamento e de Mobilidade. "Com o início do PAC e a fartura
de dinheiro, houve uma procura muito intensa das grandes e médias cidades para
conseguir obter recursos. Dependendo do tamanho do projeto, o secretário
(indicado do PP) cobrava propina para selecionar a cidade", diz Corrêa.
Ainda
segundo o delator, os empresários corruptos e políticos do PP discutiam dentro
do próprio ministério, em Brasília, os pagamentos de propina. "Basta fazer
um levantamento de "check in" em cadastros de entradas na portaria do
ministério e será possível verificar entradas de empreiteiros e executivos de
empreiteiras para as reuniões que eram avençadas as propinas".
Detalhes
da delação de Pedro Corrêa sobre a presidente afastada Dilma Rousseff
DILMA, GLEISI E AS PROPINAS DO PETROLÃO
Investigada
no Supremo Tribunal Federal (STF) por ter recebido 1 milhão de reais oriundos
da engrenagem criminosa que se apoderou da Petrobras, a senadora petista e
ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann é personagem do anexo 62 da delação
de Pedro Corrêa. Segundo o delator, na eleição de 2010, o caixa da propina do
PP na Petrobras foi usado para abastecer a campanha de Gleisi ao Senado sem a
anuência dos caciques progressistas. Como o doleiro Alberto Youssef e outros
delatores já confessaram, o dinheiro foi repassado por um entregador do doleiro
a um operador da senadora petista em um shopping de Curitiba.
O
ex-deputado, que está preso em Curitiba, conta que o dinheiro sujo injetado na
campanha de Gleisi saiu da Diretoria de Abastecimento da Petrobras, comandada
pelo engenheiro Paulo Roberto Costa, o operador do partido no petrolão. Quando
soube que parte da propina do PP havia sido desviada para uma campanha do PT,
Pedro Corrêa foi pessoalmente cobrar explicações de Paulo Roberto Costa e ouviu
dele uma revelação explosiva: "Ele (Costa) disse que
esse gesto (o
pagamento de 1 milhão em propina para Gleisi) era para atender à candidata à Presidência Dilma Rousseff, a qual tinha
interesse na eleição de Gleisi para o Senado", diz Corrêa.
Condenado
a 20 anos e sete meses de cadeia, Pedro Corrêa negocia há um ano um acordo de
delação premiada com a Justiça. Todos os citados por Pedro Corrêa já negaram
envolvimento nos esquemas criminosos. Para obter os benefícios da delação e
reduzir sua pena, ele não pode mentir sobre suas revelações. Para respaldar as
explicações que recebeu de Costa, Corrêa lembra que Dilma, depois de eleita
presidente, escolheu justamente Gleisi Hoffmann para comandar o mais importante
ministério do governo, a Casa Civil. A delação de Corrêa aguarda homologação do
STF.
Trecho da
delação premiada de Pedro Corrêa sobre a presidente afastada Dilma Rousseff na
Lava Jato
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