23/11/2014
Próximo verão será o 1º com dengue e chikungunya circulando no país
Aedes aegypti transmite tanto a dengue quanto o chikungunya
Doenças têm sintomas parecidos e são transmitidas
pelo mesmo mosquito.
Chikungunya, no entanto, tem taxa de mortalidade considerada baixa.
O vírus chikungunya deve se espalhar pelo país
seguindo o padrão de disseminação da dengue, segundo infectologistas ouvidos
pelo G1. No próximo verão, portanto, é provável que
diferentes regiões do país tenham surtos simultâneos de dengue e chikungunya.
Desde que chegou ao Brasil até o dia 25 de outubro, o chikungunya já infectou 828
pessoas, de acordo com balanço mais recente do Ministério da
Saúde. O primeiro caso de transmissão interna do vírus no país foi registrado
em setembro.
O médico Carlos Roberto Brites Alves, da Sociedade
Brasileira de Infectologia, lembra que os vetores das duas doenças são os
mesmos: os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. “Temos dengue há mais de duas décadas e não conseguimos eliminar a
infecção, pois não conseguimos eliminar os mosquitos. A chance de o chikungunya
seguir um padrão semelhante de ocorrência é grande”, diz o especialista.
Para Stefan Cunha Ujvari, infectologista do
Hospital Alemão Oswaldo Cruz e autor do livro “Pandemias: a humanidade em
risco”, o histórico do vírus nos últimos 10 anos permite concluir que ele deve
continuar se espalhando.
“A expansão do vírus começou em 2004, quando estava
no interior da África e foi parar no litoral do Quênia. De 2004 para cá, houve
uma expansão progressiva pela costa leste da África, pelas ilhas do Oceano
Índico e países do sul e sudeste da Ásia. Em dezembro do ano passado, chegou às
ilhas Martinica e Guadalupe e acabou se espalhando pelo Caribe”, diz Ujvari. “Isso
mostra nitidamente que é um vírus que está se espalhando pela locomoção
humana.”
Ele lembra que na época de férias há uma
movimentação maior de pessoas, inclusive para as ilhas do Caribe, onde há
grande disseminação do vírus. “Vai haver um fluxo de pessoas que podem trazer o
vírus. Se houver chuvas, que levam a um maior número de mosquitos, tem uma
chance muito grande de o chikungunya eclodir como uma epidemia no próximo
verão.”
Tendência
da dengue
No ano passado, o país registrou um número muito alto de casos de dengue:
1.452.489 pessoas foram infectadas. Este ano, até 11 de outubro, foram 547.612
casos, o que representa uma tendência de diminuição de infecções. Para Alves,
medidas locais como o controle dos criadouros de mosquitos e o uso de mosquitos
geneticamente modificados para controlar os vetores da doença podem surtir
efeito no próximo verão.
Além disso, quando há um número muito grande de
infectados em um ano, no ano seguinte, o número de casos tende a ser menor,
pois já há mais pessoas imunes aos subtipos de vírus que circularam no período
anterior.
Epidemias
simultâneas
Nos últimos 10 anos, já houve ocorrências de epidemias simultâneas de
chikungunya e dengue no mundo, segundo Ujvari. Foi o que aconteceu no Gabão, em
2007: o chikungunya chegou ao país no meio de uma epidemia de dengue.
Nesses casos, como os sintomas iniciais são
parecidos, como febre, dor de cabeça e dor muscular, pode haver dificuldade de
diferenciar os dois. Como nenhuma das duas doenças tem tratamentos específicos
– a estratégia limita-se a tratar os sintomas – Ujvari afirma que o melhor,
quando há dúvida sobre o diagnóstico, é conduzir como se fosse um caso de
dengue.
Apesar de provocarem sintomas parecidos, tratam-se
de vírus totalmente distintos. Quem já pegou dengue, portanto, não está imune
ao chikungunya. O fato de já ter tido dengue também não determina que uma
infecção por chikungunya seja mais grave.
saiba mais
Campanha
do Ministério da Saúde
No início do mês, o Ministério da Saúde lançou uma campanha para alertar sobre
a importância da prevenção contra dengue e chikungunya. Chamada “O perigo
aumentou. E a responsabilidade de todos também”, a campanha estimula o combate
ao mosquito transmissor das doenças.
O ministro da saúde, Arthur Chioro, afirmou durante o lançamento da ação que o
que preocupa mais é a dengue. "Nós não teremos óbitos por chikungunya e
nós temos óbitos com a dengue. Muito embora tenhamos reduzido em 40% o total de
mortes de 2013 para 2014, tem uma manifestação mais grave, muito mais
preocupante que chikungunya."
'Aqueles
que se dobram'
A infecção pelo vírus chikungunya provoca sintomas parecidos com os da
dengue, porém mais dolorosos. No idioma africano makonde, o nome
chikungunya significa "aqueles que se dobram", em referência à
postura que os pacientes adotam diante das penosas dores articulares que a
doença causa.
Em compensação, comparado com a dengue, o novo
vírus mata com menos frequência. Em idosos, quando a infecção é associada a
outros problemas de saúde, ela pode até contribuir como causa de morte, porém
complicações sérias são raras, de acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS).
Como as
pessoas pegam o vírus?
Por ser transmitido pelo mesmo vetor da dengue, o mosquito Aedes
aegypti, e também pelo
mosquito Aedes albopictus, a infecção pelo chikungunya segue os mesmos padrões sazonais da
dengue.
O risco aumenta, portanto, em épocas de calor e
chuva, mais propícias à reprodução dos insetos. Eles também picam
principalmente durante o dia.
O
chikungunya tem subtipos diferentes, como a dengue?
Diferentemente da dengue, que tem quatro subtipos, o chikungunya é único. Uma
vez que a pessoa é infectada e se recupera, ela se torna imune à doença. Quem
já pegou dengue não está nem menos nem mais vulnerável ao chikungunya: apesar
dos sintomas parecidos e da forma de transmissão similar, tratam-se de vírus diferentes.
Quais são
os sintomas?
Entre quatro e oito dias após a picada do mosquito infectado, o paciente
apresenta febre repentina acompanhada de dores nas articulações. Outros
sintomas, como dor de cabeça, dor muscular, náusea e manchas avermelhadas na pele,
fazem com que o quadro seja parecido com o da dengue. A principal diferença são
as intensas dores articulares.
Em média, os sintomas duram entre 10 e 15 dias,
desaparecendo em seguida. Em alguns casos, porém, as dores articulares podem
permanecer por meses e até anos. De acordo com a OMS, complicações graves são
incomuns. Em casos mais raros, há relatos de complicações cardíacas e
neurológicas, principalmente em pacientes idosos. Com frequência, os sintomas
são tão brandos que a infecção não chega a ser identificada, ou é erroneamente
diagnosticada como dengue.
Tem
tratamento?
Não há um tratamento capaz de curar a infecção, nem vacinas voltadas para
preveni-la. O tratamento é paliativo, com uso de antipiréticos e analgésicos
para aliviar os sintomas. Se as dores articulares permanecerem por muito tempo
e forem dolorosas demais, uma opção terapêutica é o uso de corticoides.
Como se
prevenir?
Sobre a prevenção, valem as mesmas regras aplicadas à dengue: ela é feita por
meio do controle dos mosquitos que transmitem o vírus.
Portanto, evitar água parada, que os insetos usam
para se reproduzir, é a principal medida. Em casos específicos de surtos, o uso
de inseticidas e telas protetoras nas janelas das casas também pode ser
aconselhado.
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