13.02.15
Diminuição das águas de
Jucazinho faz vestígios de vilarejos aparecem, após duas décadas
É o quarto ano
consecutivo de seca, já sendo considerada a maior dos últimos 50 anos. Em
Surubim, Agreste do Estado, está complicada a situação do reservatório
Jucazinho, que ainda não entrou em colapso, mas tem preocupado pela baixa no
volume total que comporta. “Atualmente, Jucazinho está com apenas 13,7% de sua
capacidade, que é de aproximadamente 327 milhões de metros cúbico de água. Em
janeiro de 2014, esse percentual era de 33,3%. Essa queda impressiona”, diz o
analista de recursos hídricos da Apac, César Augusto Mendonça
A maior seca das últimas
décadas que vem assolando o Nordeste brasileiro tem provocado enormes mudanças
nas paisagens, na economia e na população. Além da morte de animais no campo
devido à fome, os nordestinos começam também a conviver com o fantasma do racionamento
de água ou mesmo da sua já escassez completa, em alguns municípios do Agreste e
Sertão.
Em Surubim o cenário não é
diferente. No entanto, algumas vezes as desgraças também nos trazem graças. É o
que está acontecendo na Barragem de Jucazinho, maior represa do rio Capibaribe
e que viu nos últimos dois anos de estiagem suas águas irem embora.
Ruínas das casas do antigo Povoado de Couro D’Antas | Foto: João Paulo Lima
Apesar da grande preocupação
que a diminuição brusca das águas do reservatório tem provocado na população, a
qual teme que a mesma venha a secar deixando 15 municípios agrestinos sem água,
a seca trouxe a história à tona outra vez. Quase vinte anos após a sua
inauguração, a diminuição do nível do reservatório fez ressurgir antigos
povoados e vilarejos que estavam cobertos pela água. É o caso de Capivara e
Couro D’Antas. Estes dois vilarejos, que foram abandonados e destruídos pelos
moradores para a construção da barragem, agora estão com suas ruínas
descobertas.
Importantes povoados dos
municípios de Frei Miguelinho e Riacho das Almas, no passado esses locais
eram ponto de travessia no Capibaribe ligando as duas cidades e rota
certa para quem quisesse encurtar as distâncias entre elas. As ruínas das
antigas casas, da escola e da igreja de Couro D’Antas podem ser vistas
novamente. O passado volta ao presente, como se quisesse nos dar um recado: o
desenvolvimento que nos destruiu será o mesmo que poderá destruir vocês.
O homem busca de todas as
formas desenvolver-se e acumular riquezas. Preocupa-se muito com o dinheiro, o
capital, mas se esquece do meio ambiente. As riquezas econômicas geradas pela
utilização das águas de Jucazinho escondem a destruição de vilarejos com seu
povo, sua história e sua cultura, bem como a inundação de milhares de hectares
de mata de caatinga, matando sua flora e fauna.
O desenvolvimento rouba de nós as nossas origens, mas a própria natureza faz questão de nos devolvê-la. As ruínas de Couro D’Antas e Capivara nos faz pensar o que dizia o profeta de Canudos, Antônio Conselheiro: O mar vai virar Sertão. A história de um povo volta à tona e traz junto com ela a preocupação que devemos ter com a natureza.
Embora as ruínas desses
vilarejos sejam uma fonte histórica inestimável, não há nenhum cuidado por
parte da população local ou dos órgãos públicos em preservá-las. Parte do que
sobrou da escadaria da antiga igreja do Povoado de Couro D’Antas está sendo
destruído por vândalos. No local é possível encontrar restos das colunas e da
fachada da mesma, além de parte do seu piso original coberto de lama e entulho.
Além da capela, chama a atenção também o antigo cemitério que estava encoberto
pelas águas. Dele pouco resta, mas a memória de quem ali viveu e morreu
está guardada em seus restos de concreto.
Com a diminuição das águas, a
antiga estrada de terra que ligava Riacho das Almas a Surubim foi reaberta.
Agora carros, motos e pessoas voltaram a trafegar onde antes era o fundo da
represa. Hoje apenas areia do rio. Resta saber até quando essa estrada durará,
uma vez que com a volta das chuvas no futuro, Jucazinho tende a voltar a
encobrir esse lugar.
Embora que por poucos dias as
pessoas possam novamente andar por esses locais, a natureza fez
questão de demonstrar ao homem o seu poder e a nossa limitação. A história
renasce outra vez, ao passo que nos deixa uma lição: é preciso repensar o
futuro que queremos. Ou pensamos urgentemente em sustentabilidade, ou as ruínas
do passado antes encobertas por água, poderão virar presente.
Sabemos que a construção de grandes barragens provocam inundações, mas diante do crescimento populacional essas obras são necessárias.
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