24.04.15
Bandidos assaltam 40 pessoas que estavam em velório em Jaboatão dos Guararapes
Túmulos violados no Cemitério do Pacheco em Jaboatão dos Guararapes
A ousadia dos criminosos ultrapassou
os muros do Cemitério de Tejipió, mais conhecido como do Pacheco, na área
limite entre Recife e Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Cerca de 40
pessoas participavam de um velório quando foram surpreendidas por dois homens
armados. Aos gritos e com a arma em punho, os bandidos ordenaram que todos
entregassem seus pertences, entre bolsas, carteiras e celulares. Era início da
tarde, por volta das 14:00h do último dia 1º de abril, momento em que todos davam
início a uma oração para o ente falecido.
“Foi desesperador. Os bandidos não respeitaram nem a dor de quem foi ali
sepultar um familiar. Eles assaltaram e saíram correndo. A polícia só chegou
uma hora depois e não conseguiu prender ninguém. Com medo, desisti de acompanhar
o corpo do meu sogro da sala do velório até a quadra onde foi sepultado”,
afirma dona de casa Ana Claudia Lima, 42 anos. Ela conta que o seu sogro morava
há mais de 40 anos em Caramagibe, mas não havia vaga no cemitério público.
“Tentamos enterrá-lo em outros cemitérios do Grande Recife, mas o único que
tinha vaga era o do Pacheco. O local é de difícil acesso e parece abandonado.
Espero nunca mais voltar lá”, disse Ana Claudia, que após sair do cemitério
registrou Boletim de Ocorrência (B.O) na internet, no site da Secretaria de
Defesa Social.
Localizado no Alto do Morro do Pacheco, o cemitério fica em uma rua sem saída
(Rua Alto do São Pedro, s/n°), ao lado de um terreno baldio com vegetação alta,
que facilita a entrada de invasores. Apesar do endereço constar como Jaboatão,
a administração é de responsabilidade da Prefeitura do Recife, através da
Empresa de Limpeza Manutenção Urbana do Recife (Emlurb). A reportagem visitou o
local na última quinta-feira (16) e pôde constatar que apesar de estar em funcionamento,
onde são realizados de quatro a seis sepultamentos ao dia, o cemitério parece
esquecido pelo poder público.
Além da vegetação alta (que prejudica a visibilidade dos túmulos e facilita a
ação de vândalos), o cemitério possui vários jazigos quebrados, com restos
mortais à mostra, cacos de vidro e garrafas de cerveja pelo chão. “São os
traficantes que sujam. Eles chegam quando escurece para consumir drogas e
traficar. Ficam ‘doidos’ e quebram tudo. Não respeitam nem os mortos. Todo dia
é isso”, afirma uma moradora da área há mais de 30 anos, que preferiu não se
identificar com medo de represália.
Segundo a moradora, os traficantes costumam chegar ao local após as 18h e não
encontram dificuldade para pular o muro. O cemitério, que possui cerca de três mil
covas, é vigiado apenas por um vigilante durante o dia e dois à noite. “Quando
os traficantes chegam, os vigilantes se trancam na sala da administração.
Sentem medo, assim como todos nós que moramos e frequentamos o cemitério”,
desabafa. Em relação aos assaltos a velórios, ela disse que são praticados por
criminosos de outras comunidades. “Os traficantes são daqui do Pacheco, mas
quem comete os assaltos são gangues rivais das comunidades próximas como
Pantanal e Dois Carneiros”, explica. Antes do dia 1º de abril, o último assalto
teria ocorrido em dezembro do ano passado.
O administrador do local, Carlos Barbosa, reconheceu que o cemitério é inseguro
para funcionários e visitantes, no entanto, preferiu não comentar a ação de
traficantes no local. O horário de funcionamento é das 8:00h às 17:00h, mas Carlos
Barbosa só autoriza sepultamentos até as 16:00h para liberar os funcionários antes
de escurecer. Sobre o mato alto, Carlos explicou que a capinação é realizada
por uma equipe da Emlurb e que deve ser realizada nesta semana. “Choveu muito
nos últimos dias, por isso o mato cresceu tanto”, justificou.
Em relação aos túmulos quebrados, o administrador
explicou que compete à Emlurb a manutenção e limpeza das áreas comuns, mas os
túmulos e jazigos são de responsabilidade das famílias. “Procuramos avisar para
as famílias sobre a situação, mas muitos telefones de contato deixados no
cadastro não funcionam”.
POLÍCIA – De acordo com a Polícia Militar, a segurança na área
interna do Cemitério do Pacheco é de responsabilidade da Prefeitura do Recife e
a polícia só pode inspecionar o local quando acionada ou para verificação de
denúncia. Já a segurança na comunidade do Pacheco e área vizinhas é de
responsabilidade do 6º Batalhão da PM.
O efetivo conta com uma viatura do Patrulha do Bairro, que segundo a PM realiza
rondas durante 24h, três motos, além de uma viatura do Grupo de Apoio Tático
Itinerante (GATI). “Estamos cientes do tráfico no local e a nossa equipe de
investigação está trabalhando nesse sentido”, afirma o tenente Hugo, um dos
responsáveis pela segurança na área.
Mato prejudica a
visibilidade dos túmulos e facilita a ação de vândalos
Segundo o tenente,
os traficantes que atuam no local contam com o apoio de “olheiros” que
dificultam a ação da PM, principalmente para flagrantes. “Como o
cemitério está em uma parte alta, eles (olheiros) conseguem avistar os
policiais de longe. É por isso que iniciamos uma operação de investigação”,
explicou. Outra dificuldade apontada pelo policial é a recusa de moradores e
funcionários do cemitério em fornecer informações. “A população é intimidade
pelos traficantes e prefere não falar. A polícia vem trabalhando para convencer
sobre a garantia do anonimato e da importância de colaborar com a polícia, mas
é difícil”, disse.
Para ajudar nos flagrantes, o 6º Batalhão da PM disponibiliza aos moradores os
telefones dos policiais das viaturas que realizam ronda na área, são eles: (81)
8494.3245 / 8494. 3246 / 8494.3250 e 8494.3036. Já o telefone da sede do 6º
Batalhão é (81) 3183.1650. Denúncias também podem ser feitas através do 190.
Fonte N10
0 comentários: