Em 04.06.12
O PAÍS QUER SABER
Captação das águas em Floresta PE
Canais abandonados em Pernambuco
Não publicam para conhecimento da população
A máfia dos carros pipa
No
ano em que deveriam estar festejando a conclusão das obras de transposição do
Rio São Francisco, os brasileiros constataram que o flagelo da seca,
historicamente restrito aos sertões, já não poupa sequer as cidades.
Segundo
a reportagem, entre janeiro e maio o governo desembolsou R$103 milhões com a
frota de caminhões-pipa mobilizada para abastecer cerca de 2,8 milhões vítimas
da estiagem. Nos primeiros cinco meses de 2012, o Ministério da Integração
Nacional já gastou mais da metade dos R$ 180 milhões investidos em 2011. Se não
chover até outubro, as despesas com a distribuição de água passarão de R$ 130
milhões.
O
racionamento de água castiga moradores de 158 cidades nordestinas. Em
Pernambuco, 20% dos reservatórios entraram em colapso. Em Lajedo, a 196km do
Recife, a população suporta 20 dias sem água antes do período de abastecimento
limitado a 48 horas. Na Bahia, o estado mais afetado pela seca, mais de 50% dos
municípios decretaram estado de emergência.
Se
depender da transposição das águas do Rio São Francisco, esse quadro não mudará
tão cedo. As obras estão paralisadas em três trechos, caminham lentamente nos
outros e a gastança não para de crescer. Calcula-se que o maior empreendimento
do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, acabe engolindo 71% acima do
orçado inicialmente. Segundo o Ministério da Integração Nacional, o custo da
transposição, agora prometida para 2015, vai saltar de R$ 4,8 bilhões para R$
8,2 bilhões.
O
ministro Fernando Bezerra, responsável pela execução das obras, atribuiu a
elevação estratosférica a “adaptações e detalhamentos” requeridos pelos
projetos. Bezerra também culpa o aquecimento do setor da construção civil pelo
rombo nos cofres públicos. Só inocenta o ministério que comanda e,
naturalmente, seus superiores.
Oficialmente
incumbida de supervisionar todas as obras do PAC, a ministra do Planejamento,
Miriam Belchior, recorreu a uma nota redigida em dilmês arcaico para driblar o
tema indigesto. “Os aditivos são explicados pelo avanço dos projetos
executivos, que têm identificado, com maior grau de precisão, as intervenções
necessárias para a completude (sic) do projeto de interligação (sic) do São
Francisco”, desconversa um trecho do palavrório.
O
uso de “completude” em vez de “conclusão” mostra que a ministra está longe da
nota 10 em português. O uso de “interligação” em vez de “transposição” sugere
que Miriam tem pouca intimidade com o projeto. Resta à população nordestina
fazer o que faz desde o começo do século 19: rezar.
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