21.09.14
Especialistas estimam em quase 3 mil o
número de
exemplares da espécie
Macuquinho preto
RIO - Vinte anos após o início das investigações pelo pesquisador Luis
Antonio Pedreira Gonzaga, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é
descoberta em uma faixa estreita de Mata Atlântica, no litoral da Bahia, uma
nova espécie de pássaro (Scytalopus gonzagai) que, entretanto, já
corre risco de extinção.
O biólogo especializado em ornitologia (estudo dos pássaros) Giovanni
Nachtigall Maurício, professor do curso de gestão ambiental da Universidade
Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e primeiro autor do artigo de
descrição da espécie, disse que os cálculos feitos durante a pesquisa de campo
estimaram em quase 3 mil o número desses pássaros na região. O pássaro recebeu
o nome de macuquinho-preto-baiano. A estimativa foi baseada no cálculo da área
disponível e da densidade. A partir desses dados, os pesquisadores ampliaram as
informações para toda a área possível.
- A gente fez um cálculo e, depois, uma ampliação, que indicou em torno
de 2.888 pássaros na espécie. O cálculo foi o estopim para essa conclusão (de
risco de extinção) - relatou o biólogo.
Depois desses cálculos, a equipe de pesquisadores usou os critérios da
União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, a sigla em inglês).
- São critérios universais para o estudo de espécies ameaçadas. O
conjunto de critérios vai mostrar o grau de ameaça àquela espécie. Ela se
enquadrou na categoria em perigo. Essa é uma categoria de ameaça oficial -
afirma Nachtigall.
A regra geral estabelece que até 2.500 indivíduos, a espécie seria
considerada criticamente em perigo; de 2.500 até 10 mil indivíduos, é
considerada em perigo; e de 10 mil até 20 mil, é vulnerável.
Giovanni Maurício confirmou que o embrião da descoberta foi a pesquisa
independente do professor da UFRJ Luiz Antonio Pedreira Gonzaga e amigos.
Gonzaga acabou sendo homenageado ao batizar com seu nome a nova espécie
brasileira. Naquela época, por volta de 1993, os pesquisadores acreditaram que
se tratava de um macuquinho-preto comum, encontrado no Sul e no Sudeste do
país.
- Por isso, ela não foi descrita naqueles primórdios - explicou
Maurício.
Segundo o especialista, a desconfiança de que era uma nova espécie
começou em 2002. Constatou-se, então, que as medidas eram diferentes.
- A cauda era menor e a asa, maior - disse Maurício.
A cor foi outro fator de distinção. O 'Scytalopus gonzagai' apresenta
ainda ritmo de canto mais forte e diferentes vocalizações.
Duas expedições feitas em 2004 e 2006, com o apoio da organização não
governamental (ONG) Save Brasil , vinculada à Birdlife Internacional, da
Inglaterra, e da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza,
respectivamente, puderam investigar mais profundamente o pássaro, nas montanhas
do sudeste da Bahia. As expedições confirmaram que era uma espécie nova e
permitiram chegar à descoberta este ano.
Giovanni Maurício se baseia na Política Nacional da Biodiversidade para
transmitir aos alunos a importância do tema para a vida no planeta. O professor
decidiu retomar a descrição da espécie, que estava parada, “até para mostrar
aos alunos como a biodiversidade brasileira vai aumentando”. Ele pretende
continuar fazendo a revisão desse gênero de aves porque está convicto de que há
mais espécies novas a serem descritas. Maurício acredita que daqui a um ou dois
anos serão descobertas mais espécies não ameaçadas de extinção, porque têm uma
distribuição maior:
0 comentários: