23.03.15
Araras colorem céu de Pirapama
Dois casais, livres na natureza, encantam a população local
Além do ecosistema, as aves se
apaixonaram por um morador do local: Seu João
O amanhecer em um sítio localizado em
Pirapama, no Cabo de Santo Agostinho, ganha cores quando dois casais de araras,
das espécies Canindé e Cleópatra, cruzam o céu nas primeiras horas do dia.
Apesar de serem alvo da má fé de muitos homens, fazendo-as figurar na lista de
animais em risco de extinção, é na propriedade de João Severino de Assunção, de
60 anos, Seu João, que as aves encontram abrigo e proteção para se reproduzirem
em liberdade. A relação de amizade e de amor é tão grande que um simples
assobio ou chamado basta para elas pousarem no braço dele.
“Batizei uma (das Canindés) de Xuxa e a outra (Cleópatra) de Szafir.
Mas, chamando pelo nome de ‘bebê’, as quatro me atendem. Toda vez quando chego
é uma festa, não desgrudam um minuto”, conta, orgulhoso. Com uma bela faixa de
68 hectares de mata atlântica preservada, a área se torna um cenário ideal para
as araras, principalmente, entre os meses de novembro e abril, período de
acasalamento das espécies.
Conhecido pelos moradores do entorno pelo seu jeito simples, de sorriso
fácil e extremamente humilde, a fama de “guardião das aves” de Seu João vem de
muitos anos. São mais de dez anos de troca de carinhos, conversas e cuidados.
“Quando elas apareceram fiquei encantado. Pesquisei bastante sobre a
alimentação delas, como vivem e como se reproduzem. Ficam soltas pelo sítio,
mas sempre voltam porque me consideram uma família. Hoje, não me vejo sem os
meus xodós, tenho muito amor por elas”, confessa.
Mesmo indo diariamente ao local, incluindo os fins de semana, ele conta
com a ajuda de cinco funcionários, responsáveis por cuidarem do espaço e da
alimentação das aves. Segundo ele, é tarefa obrigatória alimentá-las pela
manhã, às 6h, e no início da noite, às 18h. O cardápio também tem que ser
variado: desde frutas como mamão, maçã, uvas, goiaba, acerola e banana a
alimentos oleaginosos como castanha-do-pará, semente de girassol e de dendê.
“Fico tranquilo porque meus funcionários têm a mesma atenção que tenho com
elas. Sei que estão em boas mãos na minha ausência”, salienta Seu João.
Porém, um mistério que perdura até hoje na cabeça dele é como elas foram
parar na região. “Não sei se soltaram as araras por aqui ou se elas encontraram
nessa área o seu habitat. Mas, só de uma coisa eu tenho certeza: foi o melhor
presente que Deus me deu”, declara. Entretanto, ao ser perguntado sobre o medo
de perdê-las um dia, os olhos de Seu João ficam marejados. “Eu ainda não
entendo como conseguem fazer mal a uma criaturinha dessa. Bicho é para ser
criado solto, não em cativeiro, sendo maltratado. Enquanto eu estiver vivo, eu
não vou deixar nenhum mal acontecer a elas”, assegura. O espaço, inclusive, é
monitorado por câmeras, a fim de impedir o roubo das aves.
HISTÓRIAS
São inúmeras as histórias engraçadas envolvendo as araras. Porém, um
episódio ocorrido ano passado faz Seu João soltar gargalhadas até hoje. “Teve
um casamento no sítio pela manhã, em que eu passei a maior vergonha entre os
convidados. Fui inventar de ir até o evento e elas me seguiram. Resultado: elas
roubaram a cena ao invadir o salão de festas e em vez de ser a noiva a estrela
da festa, quem brilhou foram elas”, conta aos risos. No sítio há um espaço para
eventos: o Fazenda Casa Branca, onde são realizados casamentos, formaturas e
aniversários de 15 anos, há três anos. “É engraçado porque as pessoas que vêm
alugar o espaço já perguntam por elas. Têm noivas que pedem até para fazer
ensaios fotográficos com as araras, mas não tem jeito. O chamego delas é só
comigo”, brincou.
ORIGEM - A palavra
“Canindé” vem do Tupi e significa “Arara de belas penas azuis escuras”. Já a
espécie “Cleópatra” é conhecida assim por possuir o desenho ao redor dos olhos
puxados, fazendo menção à maquiagem usada por Cleópatra, tida como a governante
mais influente do Egito.
Arara chloropterus
Arara Canidé
Fonte Folha PE
Ilustações Blog Rui Medeiros
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