23.03.15
Lago de Sobradinho é 14 vezes maior
que a Baía de Guanabara (RJ)
O dia 22 de março é o ‘Dia Mundial da
Água’. E para mostrar a importância desse recurso tão precioso, o Fantástico
percorreu uma região do Brasil que vive em estado de emergência. Justamente
pela falta d’água. São quase mil cidades nesta situação.
Exércitos de caminhões-pipas tentam
amenizar o problema, poços são perfurados em busca de água e até uma cidade que
foi inundada nos anos 70 para a criação de uma hidrelétrica reapareceu por
causa da seca.
O maior de todos os reservatórios de
água do Nordeste está secando. O Lago de Sobradinho tem 380 quilômetros de
extensão e capacidade para armazenar 34 bilhões de metros cúbicos de água.
Quatorze vezes maior que a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. É o mar do
sertão.
Mas o volume atual do Lago de
Sobradinho é de apenas 17%. A régua com os números na parede da barragem
comprovam que o nível está baixando cada vez mais.
A barragem foi construída no Rio São
Francisco, para gerar energia elétrica e abastecer o Nordeste. No enchimento do
lago, em 1974, cinco cidades baianas foram alagadas. A população foi
transferida para novas cidades, com os mesmos nomes: Pilão Arcado, Remanso,
Casa Nova, Sento Sé e Sobradinho.
Com a seca atual, o lago recuou 6
quilômetros, entre a nova e a velha Remanso, deixando o chão rachado e apenas
algumas poças de água, que são aproveitadas pelas aves e pelo gado.
A cidade inundada há 40 anos com a
formação do Lago de Sobradinho, voltou a aparecer agora, em ruínas. Só restou a
Estação de Tratamento de Água da cidade. Em um local, o nível da água passava a
7 metros de altura, cobrindo completamente a velha Remanso.
Antigos moradores estão visitando o
que restou da terra onde nasceram. Seu Everaldo levou o Fantástico para lembrar
como era a cidade.
“Tinha dia que você não encontrava um
espaço em frente à cidade, para encostar uma barca pela importância de toda
hora chegar barcas diferentes. O grande forte do Remanso mesmo era ser o porto
da cidade e também da região do interior”, conta o carpinteiro Everaldo
Muniz.
Do alto da caixa d’água é possível
ver o que resta da cidade. Por fotos é possível ver como era o ancoradouro
antes da formação do lago. A igreja matriz, que também ficou em ruínas e o
mercado municipal.
"Na época da nossa cidade
antiga, o mercado tinha uma arquitetura até moderna para sua época. Só mesmo
quem viveu aqui é que sabe a emoção que a gente passa, quando pisa aqui na
terra natal”, diz Marcílio Braga, produtor de eventos.
De Remanso partem centenas de
carros-pipa para abastecer outras cidades e a zona rural. Pelos dados do
Exército, que controla a distribuição da água, são 6,5 mil carros-pipa. No Piauí,
foram abertos poços particulares com capacidade de armazenar 480 mil litros. O
Exército, que tem o controle da extração e transporte da água, garante que as
contas estão em dia. Mas os caminhoneiros reclamam da falta de pagamento.
"Tudo atrasado. Em janeiro, saiu
outubro e novembro. E aí não saiu mais dinheiro não. Essa aqui é a última
carrada do mês de março sem receber", conta o caminhoneiro Lindomar
Medeiros.
O Fantástico registrou um caminhão
saindo para a cidade de Fartura do Piauí, a 130 quilômetros de distância. As
estradas estão lotadas de carros-pipa, que chegam a ultrapassar pelo
acostamento. Cometem infrações, na pressa de entregar a água.
No Parque Nacional da Serra da
Capivara, que tem a maior concentração de fauna da caatinga, um poço com 800
metros de profundidade fornece a água para abastecer pequenos reservatórios no
meio da mata. Só para consumo dos animais.
Montanhas de Arenito, no sertão do
Piauí, com a vegetação completamente verde. A região fica com essas
caracterísitcas, porque choveu nos últimos dias. E por lá, uma casa típica do
interior do Nordeste. A diferença é uma calha, de aproveitamento da água.
Quando chove, a água passa pela calha e vai para uma cisterna, ao lado da casa.
Dona Raimunda mora sozinha na casa. Os habitantes da área, tão isolada,
partiram. Mas a moradora solitária vai ficar enquanto tiver água: "Se não
tivesse essa água aqui, eu não tava mais aqui não. Já tinha ido embora”, diz a
agricultora Raimunda Santos da Silva.
O Fantástico também foi em busca de
um tesouro da natureza. Seu Justino, sertanejo autêntico, nos levou a um lugar
desconhecido, a que só os nativos da região têm acesso. Encontramos água
corrente, em uma das áreas mais secas do Nordeste. O riacho com apenas 1
quilômetro de extensão, irriga a floresta. E tranforma a vegetação seca em um
jardim.
As araras vermelhas namoram
tranquilas no topo da árvore. A águia chilena também escolheu esse oásis para
viver. Os roedores estão por toda parte.
"Esses lugares acabam
funcionando como refúgio para fauna. Acabam que eles evitam de transitar na
zona periférica e zonas urbanas e serem caçados por caçadores na região
urbana”, explica a bióloga Melissa Gogliath.
0 comentários: